quarta-feira, 17 de junho de 2015

Livros e Escritores: Lya Luft

1º Post Oficial

"Há temas que se repetem, perguntas que se perpetuam; inquietações coincidem entre o escritor e seus leitores, entre quem dá algum depoimento e quem assiste.
'Por que você escreve?' é a primeira e universal indagação.
Um escritor respondeu que se parasse de escrever morreria, portanto escrevia para não morrer; uma mulher dizia que escrevia para não enlouquecer, outra revela que o faz para ser amada.
Sou dos que escrevem como quem assobia no escuro: falando do que me deslumbra ou assusta desde criança, dialogando com o fascinante - às vezes trevoso - que espreita sobre nosso ombro nas atividades mais cotidianas. Fazer ficção é, para mim, vagar à beira do poço interior observando os vultos no fundo, misturados com minha imagem refletida na superfície."

Lya Luft - O Rio do Meio.



Quando me perguntam: Me indique um livro? Um escritor? 
Logo respondo: Lya Luft.
Desde o primeiro livro que li (A Riqueza do Mundo) a autora me fascinou pela forma que escreve suas ficções e ensaios tão reflexivos. Desde então, tenho lido seus livros em busca daquilo que ela tem a compartilhar, suas indagações sobre a vida, suas ficções tão cheias de relacionamentos humanos com toques, até mesmo, de fantasia.

Em O Rio do Meio, minha leitura mais recente, a autora aborda diversos temas que são partes de suas indagações. Lya fala sobre infância e maturidade, além de abordar os valores sociais e familiares impostos e suas consequências em nossas atitudes.

"Mas também me interrogo sobre seres humanos que foram tolhidos pelas obrigações, pela grosseria dos pais ou da pessoa escolhida para ser sua parceira. Incapazes de administrar sua própria existência, tangidos como animais comprados a preço inferior, sem tempo sequer de entrar em si e avaliar-se - ou com medo da amargura do que lhes seria revelado."

Lya escreve sobre mulheres e seus destinos; homens e seus sonhos - muitas vezes reprimidos; de vida e morte (muito presente em suas literaturas), além de ficções com personagens próximos da realidade. Quando se lê um livro seu, é comum se identificar e até se questionar: ela escreveu pra mim? Esse personagem parece tanto comigo!

As relações afetivas e humanas são constantemente citadas. Em todos os seus livros há espaço para relacionamentos complexos, onde envolvam pessoas imperfeitas, que muitas vezes buscam aquilo além do que o outro tem a oferecer. Por outro lado, essas relações podem se fortalecer através das diferenças de cada um. Envolvendo aceitação e generosidade.

"A família tradicional rompe-se ou se transforma: começa o que se poderia chamar a família humana, em que se exercem mais generosidade e tolerância e se aceitam melhor as diferenças e dificuldades do outro."

As diferenças de homem e mulher, pontos em comum, outros que se divergem e o amor tão desejado por ambos. Casais que se completam, outros que não se suportam. O amor deve ser livre?

"'Amar alguém é deixá-lo livre', escreveram-me num bilhete. Deve ser esse o mais difícil e obscuro dos segredos de conviver bem."

Ao falar sobre os ficcionistas, Lya nos faz pensar se em seus romances, dramas e ficções, estariam os autores disfarçando elementos de sua própria história. Para ela, escrever é uma forma de denunciar injustiças, registrar fatos que podem mudar e melhorar o mundo, libertar-se e dançar com as palavras. Lya escreve:

"A mim, mais me importa o que têm de simbólico e de alegoria, pois neles falam os meus mitos particulares, a maioria dos quais não decifrei, mas tento controlar pelo feitiço da palavras."

Para mim, os livros da Lya Luft são arrebatadores. "Minha literatura não emerge de águas tranquilas: falam de minhas perplexidades enquanto ser humano..." diz ela. Seus livros conseguem ser ousados e filosóficos ao discutir temas que tanto a incomodam. Uma escritora que sempre vou indicar para aqueles que questionam e gostam de pensar, que buscam nas palavras sabedoria e alento.

Até o próximo post! 


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