segunda-feira, 26 de outubro de 2015

"Nas nuvens"


De cima das nuvens vi um rapaz caminhando pelas ruas. Era de manhã, e o sol já mostrava seus fracos raios de luz. A cidade começava a se movimentar: carros nas pistas, pessoas andando de um lado ao outro nas calçadas. As cafeterias se enchiam de gente, todos apressados, com olhos inchados, querendo um pouco do líquido preto e quente.

Ele estava com um livro debaixo dos braços, e quando viu um banquinho à frente, sentou-se. Um senhor passou por ele e desviou o olhar. Não entendi o porquê. Outra senhora lhe deu um bom dia afetuoso. Sorri.  A cidade é fria, pelo menos pela minha percepção. Os humanos vivem com seus longos casacos, suéteres e cachecóis, que parecem mais como armaduras.

Na esquina a diante, um casal se despedia com um beijo. Pensei em dizer lá do alto: “esqueçam-se por um momento, mas deixe a saudade fluir, e quando estiverem juntos novamente, sintam-se enamorados como se fosse a primeira vez”.
Na mesma esquina uma mãe segurava o filhinho pela mão. Ele estava de uniforme, e com certeza estava indo para a escola. Como o sono maltrata! “Mas garotinho, a vida é assim, responsabilidades começam cedo, mas não se esqueça de brincar e ser feliz, ok? Você vai crescer, viver e vencer.”

Meus olhos retornaram ao rapaz que sentou no banco, ele continuava lendo seu livro. As mãos dançavam como se fosse um pintor pincelando telas. Ele estava carinhosamente folheando página por página. Por fim, a luz do sol tocou seu rosto e ele olhou à sua frente. Por um instante, fechou o livro e admirou o horizonte. Parecia que aquele momento era único, somente dele. Recebeu o dia com toda gratidão e esplendor. Viu o sol se posicionar num canto do céu, reverenciando seu espetáculo. Ele sorriu. Eu sorri. “Ele percebeu, ele notou”.

Dentre todos naquela rua, que mais pareciam estar preocupados com seus afazeres diários, aquele rapaz percebeu o essencial: a vida. Ela acontece a todo instante. Ele se conectou com o que estava à sua volta. Fechou os olhos e respirou. Levantou-se e caminhou em direção à cafeteria mais próxima. Pegou um café para viagem, e seguiu seu caminho. 

Escrito em 24/10/2015

domingo, 25 de outubro de 2015

Resenha #2: Palavra Por Palavra

Livro: Palavra Por Palavra
Autor: Anne Lamott
Editora: Sextante
Ano de Publicação: 2011

Olá, pra você que ainda acompanha esse blog, ou que por um acaso, ou obra da vida parou por aqui.
Pois então, estou meio sem tempo para novos posts, e sim, continuarei a mantê-lo. Preciso disso aqui. Mantenha a calma que o semestre esta acabando e terei mais tempo para publicar.

Tenho que compartilhar esse livro com vocês. Estou enamorado por ele, que promoveu em mim força e coragem para continuar escrevendo meus textos bobos. O livro fala basicamente do processo de escrita: primeiros esboços ruins, perfeccionismo (o maior inimigo de qualquer escritor), apoio de alguém que se comprometa a ler seus textos, criação de um livro e métodos para melhorar as percepções à cerca dos personagens de sua história, além de incentivo à publicação - dificuldades que um escritor geralmente enfrenta.

Gostei da forma que a autora abordou o assunto no livro, bem cômico. Anne é professora de escrita criativa, e nos mostra vários exemplos do cotidiano de seus alunos e dela própria, e nos ajuda a desbravar territórios da própria alma e expô-los no papel. O início da escrita pode ser árdua, cabe ao escritor um olhar panorâmico do mundo, estar atento as situações e ser sensível a elas, a fim de provocar uma motivação para a escrita. Escrever requer prática e dedicação todos os dias, nem que seja para escrever uma simples frase, ou uma página de um diário pessoal, isso contribui para o aperfeiçoamento do escritor.

" - E aí, por que o que escrevemos é importante mesmo? - perguntam.
   - Por causa do espírito - respondo. - Por causa do coração.
   A escrita e a leitura reduzem nossa sensação de isolamento. Aprofundam, alargam e expandem nossa noção de vida: alimentam a alma. Quando os escritores nos fazem balançar a cabeça por causa da exatidão de sua prosa e de suas verdades e nos fazem rir de nós mesmos ou da vida, nossa alegria de viver é restaurada. Ganhamos a chance de dançar com o absurdo da vida, ou de pelo menos acompanhar batendo palmas, em vez de sermos constantemente esmagados por ele. É como cantar em um barco durante uma terrível tempestade no mar. Você não faz com que a tempestade pare, mas, cantando, pode mudar o coração e o espírito das pessoas que estão a bordo."

Escreva para você. Escreva para alguém. Escreva.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Desconhecido


Às vezes, quando olho para um desconhecido, fico pensando: Como será aquela pessoa por trás de seus olhos? Como ele vê o mundo? Suas angústias não compartilhadas, seus amores perdidos ou ausência de alguém querido. Seus defeitos tão visíveis pelos outros, mas suas qualidades não reconhecidas escondidas em algum lugar por trás daquele olhar.
Tente fazer esse teste: observe e indague.
Somos todo um conjunto de contradições: uma soma de lágrimas e sorrisos. Quais são suas preocupações e medos constantes?
Observar um desconhecido é como imaginar o fundo do oceano, não estamos vendo, mas existe. Dentro dele há uma imensidão de segredos, de sonhos, de marcas não cicatrizadas. Porém, acredito que todos nós possuímos algo em comum: um anseio de nos tornarmos alguém. Ao mesmo tempo me indago sobre seus sonhos perdidos, sobre quantas vezes teve que abrir mão deles para agradar os outros.
Quando vejo um desconhecido, eu penso: no fundo, ele segue em busca de si mesmo e, um dia, se tornará essencial para outrem.

Escrito em: 18/05/2014