De cima das nuvens vi um rapaz caminhando pelas ruas. Era
de manhã, e o sol já mostrava seus fracos raios de luz. A cidade começava a se
movimentar: carros nas pistas, pessoas andando de um lado ao outro nas
calçadas. As cafeterias se enchiam de gente, todos apressados, com olhos
inchados, querendo um pouco do líquido preto e quente.
Ele estava com um livro debaixo dos braços, e quando viu
um banquinho à frente, sentou-se. Um senhor passou por ele e desviou o olhar.
Não entendi o porquê. Outra senhora lhe deu um bom dia afetuoso. Sorri. A cidade é fria, pelo menos pela minha
percepção. Os humanos vivem com seus longos casacos, suéteres e cachecóis, que
parecem mais como armaduras.
Na esquina a diante, um casal se despedia com um beijo. Pensei
em dizer lá do alto: “esqueçam-se por um
momento, mas deixe a saudade fluir, e quando estiverem juntos novamente,
sintam-se enamorados como se fosse a primeira vez”.
Na mesma esquina uma mãe segurava o filhinho pela mão.
Ele estava de uniforme, e com certeza estava indo para a escola. Como o sono
maltrata! “Mas garotinho, a vida é assim,
responsabilidades começam cedo, mas não se esqueça de brincar e ser feliz, ok?
Você vai crescer, viver e vencer.”
Meus olhos retornaram ao rapaz que sentou no banco, ele
continuava lendo seu livro. As mãos dançavam como se fosse um pintor pincelando
telas. Ele estava carinhosamente folheando página por página. Por fim, a luz do
sol tocou seu rosto e ele olhou à sua frente. Por um instante, fechou o livro e
admirou o horizonte. Parecia que aquele momento era único, somente dele.
Recebeu o dia com toda gratidão e esplendor. Viu o sol se posicionar num canto
do céu, reverenciando seu espetáculo. Ele sorriu. Eu sorri. “Ele percebeu, ele notou”.
Dentre todos naquela rua, que mais pareciam estar
preocupados com seus afazeres diários, aquele rapaz percebeu o essencial: a
vida. Ela acontece a todo instante. Ele se conectou com o que estava à sua
volta. Fechou os olhos e respirou. Levantou-se e caminhou em direção à
cafeteria mais próxima. Pegou um café para viagem, e seguiu seu caminho.
Escrito em 24/10/2015
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